segunda-feira, 2 de março de 2015

Crianças do 1º ciclo "trabalham" mais do que os adultos

Aqui está a razão pela qual os TPC dos meus filhos são "quase feitos por mim".
Sim, ajudo-os a despachar aquilo no menor tempo possível para que possam usufruir das horas ao final do dia a que têm direito e não tenho o menor problema em o assumir perante quem quer que seja, inclusivamente perante o colégio e respectivas professoras que conhecem perfeitamente a minha posição face ao assunto.
Isto para não chegar ao ponto - à semelhança do que fez uma amiga minha - de enviar um recado à professora a informar que só aceita trabalhos de casa ao fim-de-semana, uma vez que só chega a casa às 19h e que entre banho, jantar e brincar não há tempo para TPC.
O tempo em família tem que ser respeitado. É de lamentar profundamente que raros sejam os professores que o respeitem.

"Muitas crianças portuguesas entre os seis e os dez anos trabalham como alunas tanto ou mais do que os adultos, com oito horas diárias na escola a que muitas vezes acrescem trabalhos de casa "repetitivos e inúteis", defendem especialistas.

"A vida das crianças a partir dos seis anos não pode funcionar só a partir da escola. A escola é muito importante, mas a educação informal e os momentos de lazer e o brincar são fundamentais", argumenta Maria José Araújo, investigadora da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto.
Vendo o tempo médio de trabalho de um adulto, entre 37,5 a 40 horas semanais, percebe-se que muitas crianças trabalham no seu ofício de alunas tanto como um trabalhador adulto. Contudo, enquanto o trabalho profissional dos adultos é seguido de descanso para a maioria das pessoas, o trabalho escolar é cada vez mais desenvolvido dentro e fora da sala de aula, nota a investigadora, em declarações à agência Lusa.
Opinião idêntica revela o pediatra Mário Cordeiro, para quem as crianças trabalham mais do que os adultos: "Qualquer sindicato das crianças, se existisse, nunca permitiria tamanha carga horária".
O tempo para brincar, descansar e preguiçar é, segundo os especialistas, subvalorizado.
"A cultura escolar sobrepõe-se à cultura lúdica", refere Maria José Araújo, que lamenta que o tempo livre das crianças seja invadido pela escola, não deixando que a criança possa descansar e escolher o que fazer.
Trata-se sobretudo da forma como as atividades são estruturadas, já que mesmo as atividades de enriquecimento curricular são pensadas em termos de escolarização.
"O ensino formal é muito importante e devemos estimular as crianças para isso. Mas depois de cinco horas de atividade letiva, é preciso descansar e brincar. As outras atividades que as crianças realizem devem ter uma metodologia lúdica", defende.
Atualmente, a escola e a família parecem ter esquecido que a brincar se "aprende muito": "as crianças não brincam para aprender, aprendem porque brincam. Brincar é viver, para as crianças. É necessário respeitar a cultura lúdica e as culturas da infância".
Repetir em casa o que se fez na escola, prolongando o tempo de trabalho escolar, é um dos erros que se tem vulgarizado, defende.
"Os TPC [trabalhos para casa] são muitas vezes repetitivos e inúteis. Meninos de seis e sete anos andarem a repetir letras e fichas, com o argumento de que eles gostam e precisam, devia ser proibido, como acontece já nalguns países", sustenta Maria José Araújo.
Contudo, a investigadora diz que é necessário distinguir entre estudar e fazer TPC: "Estudar é importantíssimo e deve ser ensinado e incentivado. Deve ser mostrado isso às crianças. Mas estudar tem de ter a adesão voluntária de quem o faz. Já os TPC repetitivos podem ajudar a mecanizar, mas afastam a criança do sentido e do valor do conhecimento".
Para Maria José Araújo, os TPC, a existirem, devem ser feitos na escola, eventualmente no apoio ao estudo e nada mais, até porque "representam muito em termos de tempo que ocupam, mas muito pouco em termos de estímulos cognitivos".
"Na verdade, se os TPC, tal como os conhecemos, ajudassem as crianças a ter sucesso escolar já se teria notado", indica, sugerindo que se deve antes ajudar as crianças a compreender o significado do conhecimento e das diferentes formas de aprendizagem.
"Saber não é só repetir e há muitos educadores que apostam mais nesta versão", defende.
Também para o pediatra Mário Cordeiro, a escola, onde os meninos permanecem tanto tempo, tem a obrigação de ensinar "sem invadir o espaço-casa, onde as crianças devem estar sem pressões".
"Os TPC diários, na versão 'mais do mesmo', são uma invasão da privacidade, na pior hora possível para a família e quando o aluno não tem capacidade de resposta, originando stress familiar e pessoal. Deviam ser abolidos", defende Mário Cordeiro."

    in DN

10 comentários:

  1. Realmente há coisas que são demais.
    Também sou apologista de menos trabalhos de asa.

    Beijocas

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  2. Apesar de dar aulas ao 3º ciclo e ao secundário,confesso que essa notícia me assustou.Já marcava poucos trabalhos para casa.Agora,cada vez menos...
    Creio que a minha sensibilidade em relação a esse assunto tem a ver com o facto de ser mãe (3 filhotes)...
    Exagero de zelo*

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  3. Durante o meu tempo de docente sempre mandei TPC's embora fossem sempre trabalhos que pudessem executar sozinhos exactamente para evitar que os país o fizessem. Eram geralmente transcrições do estudo do meio , parágrafos tabuadas.
    É importante criar hábitos de estudo para providenciar e prevenir a faculdade e isso começasse desde o primeiro ciclo.
    Certamente que demasiados tpcs não fomenta o trabalho
    Kis '>}

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  4. Por vezes é complicado... Por acaso a princesa cá de casa não costuma trazer muitos trabalhos, apesar de trazer quase todos os dias. Geralmente são coisas relativamente rápidas e que ela consegue fazer sozinha - por vezes tirando uma ou outra dúvida... - e num curto espaço de tempo... Mas de facto há dias em que é complicado: quando as coisas no trabalho atrasam, a minha mãe só a consegue ir buscar tarde e acaba por chegar a casa, por vezes, só por volta das 19h... Com o banho e jantar - e tendo em conta que se deita cedo para acordar cedo no dia seguinte... - o tempo que sobra não é muito... Mas até ver tem cumprido sempre com o que é pedido porque, como disse, acabam por não ser trabalhos muito "elaborados" ou demorados - esses, geralmente, são enviados para serem feitos durante o fim-de-semana.

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  5. Ainda bem que já não é docente. Pelos erros ortográficos que dá no seu (curto) texto, realmente os TPC não a ajudaram muito...

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  6. Também calculo que a caríssima blogger (com quem concordo relativamente a este post, pelo menos com a maior parte das afirmações) também não publique o meu comentário anterior... Mas também não deveria ter publicado o comentário que suscitou minha intervenção. Não vale tudo só porque concordam comigo.

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  7. Apoiado, TPC é Tortura Para Crianças. Sugiro também que os atletas só vão treinando uma vez por outra, para evitar cãibras musculares. Viva o laxismo!

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  8. No colégio dos meus filhos, no 1º ciclo não há TPC, por esssa razão. Nos ciclos seguintes, há um ou outro, mas nada de exagerado.

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  9. É um exagero de facto, querem que as crianças sejam os melhores dos melhores em tudo e esquecem-se que é preciso tempo para se crescer como pessoa com equilíbrio e com liberdade para sermos nós próprios!
    Bj S

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  10. Eu, há uns 10 anos a esta parte, chegava a casa e ficava a estudar até às 19 horas. Era a hora dos Morangos com Açúcar.
    Sinceramente, gostava tanto de estudar que nunca me custou nada.

    http://atualidadesbyclaudia.blogspot.pt/

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