sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Leite, leite everywhere


Este é um assunto que me é particularmente caro, pelo que hoje me apetece falar nele =)

São inúmeras as teorias acerca dos benefícios versus malefícios do consumo de leite. Quem nunca ouviu a célebre frase "os humanos são os únicos animais adultos que bebem leite?" - coisa mais ridícula, btw...

Existem diversas teorias, suportadas por estudos científicos, que resultam em acérrimos defensores do sim, deve beber-se, e do não, não se deve consumir.

É certo que o leite atual é sujeito a um processamento que o altera face ao de antigamente. Desde logo porque tem menos microrganismos, graças à pasteurização, e menos gordura. Por outro, há quem alegue que está agora contaminado com diversos pesticidas e outros produtos tóxicos, mas também repleto de antibióticos e hormonas. E que estas, por sua vez, poderão estar relacionadas com o aumento do risco de alguns cancros e de outras doenças. 
Para os defensores do “sim”, o leite é um alimento completo, que contém uma enorme quantidade de nutrientes essenciais, alertando para os muitos estudos epidemiológicos que demonstraram o efeito benéfico do consumo de leite, tendo sido evidenciado um efeito protector contra várias doenças, nomeadamente enfarte agudo do miocárdio, AVC, diabetes, vários tipos de cancro e demência.

Intolerância à lactose?
A lactose é um tipo de açúcar presente em grande quantidade no leite e nos seus derivados. É digerido no intestino delgado por uma enzima específica, a lactase. O mecanismo de digestão é relativamente simples: na presença da lactase, este açúcar é quebrado em dois componentes, glicose e galactose, que depois são utilizados como fonte de energia pelo organismo. A intolerância à lactose tem como origem uma insuficiência ou ausência da enzima lactase e pode ser permanente ou temporária. Em certos casos, relativamente raros, o organismo é incapaz de produzir lactase devido a uma falha genética que impede a sua síntese. Sem a lactase, enzima essencial à quebra da lactose em glicose e galactose, não ocorre a digestão deste açúcar. Estamos então perante um caso de intolerância. 

Pode falar-se de alergia à lactose?
Não.
A diferença entre alergia e intolerância alimentar é que, ao contrário da alergia, na intolerância não há envolvimento do sistema imunológico. A intolerância à lactose manifesta-se por ausência ou insuficiência da enzima lactase. A causa é genética ou ambiental. No caso de alergia às proteínas do leite de vaca, há uma reação do sistema imunológico à introdução destas proteínas no organismo. Ao contrário, a intolerância à lactose é simplesmente a impossibilidade do organismo de a assimilar.

E aquela cena de sermos o único mamífero adulto que bebe leite? 
Aqui cito o gastroenterologista Hermano Gouveia, que é peremptório em afirmar que:
“O homem também é o único animal que é racional. Esse argumento tem alguma graça, porque se dermos leite a um gato ou a um cão, também o bebem, aliás gostam bastante. A questão é que, realmente, eles não têm o raciocínio que lhes permita fazer essa escolha. De acordo com esse argumento, também não faria sentido nenhum que o Homem adulto tivesse lactase, o fermento que vai permitir desdobrar a lactose que existe no leite. E ela existe no organismo humano.
O que se passa é que há povos com mais ou menos lactase, isso é bem visível no mapa mundo. No Noroeste da Europa está a população que tem mais lactase, e portanto menos intolerância à lactose. No Mediterrâneo, no Sul, são muitas as pessoas intolerantes, cerca de 20, 30%, ao passo que entre os nórdico os valores são de apenas cerca de 5%. Se falarmos nos asiáticos, a percentagem de intolerantes aumenta muitíssimo, 70, 80% e entre os africanos é ainda maior. 
O leite é um alimento completo, com uma grande riqueza nutricional, nomeadamente fonte de proteínas. Só há razão para o evitar caso seja mal tolerado”. 

Resumindo, não existe uma regra para o consumo de leite, depende da tolerância de cada um. Desde que não haja qualquer intolerância digestiva ou alérgica, o leite deverá ser um alimento de primeira escolha, que faz parte da nossa dieta há milhares de anos. 

E agora, com licença, que está na hora do meu galãozinho :DD

12 comentários:

  1. Este é um assunto que me afecta particularmente, tenho problemas com o consumo do leite, e sim já fiz o teste da intolerância e deu negativo. Diz a médica que apesar de o meu organismo ter a tal enzima a lactase não quer dizer que o meu organismo tolera todas as propriedades do leite. Ora temos um problema se hoje bebo um galão e fico porreiro da vida para a semana corro o risco de beber e ficar agarrada à barriga e à casa de banho. Desde que estou grávida que os sintomas quase desapareceram, vamos ver como fico depois.

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    1. A ausência da enzima não é a única causa de intolerância, a enzima pode estar presente porém numa quantidade baixa, que se revela insuficiente para digerir toda a lactose ingerida, causando acúmulo de açúcar e, consequentemente, sintomas clínicos. E é como disse, esta situação pode ocorrer de forma temporária, pode ser o teu caso :)

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  2. Olha eu cá não sei... mas não gosto portanto não bebo :P

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    1. A minha mãe também não bebe, enjoa só com o cheiro. É daquelas coisas que nunca conseguirei entender, a par com aquelas criaturas (que, curiosamente habitam cá em casa) que não gostam de chocolate nem de batatas fritas...

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  3. Por cá ninguém é intolerante e às vezes até dava jeito ter uma vaca, não tenho é espaço para ela :)!

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    1. Ahahahahah olha que bela ideia! Se um dia ceder ao desejo de Santo Marido e nos mudarmos para uma vivenda, acho que vou comprar uma vaca. É que, para teres noção, aqui em casa consome-se uma média de 14 litros por semana!

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  4. Eu faço parte do grupo "não posso nem com o cheiro".
    No entanto, como sem qualquer problema queijo, iogurtes, sobremesas de leite condensado e tudo o que possas imaginar com leite …. mas não bebo leite (nem leite com chocolate) há anos.

    (eu sei, sou uma pessoa muito esquisita, enfim) ;)

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    1. Tal como a minha mãe, come tudo quanto leve leite mas bebê-lo puro está fora de questão.
      No entanto, Ucal - e só Ucal! - já bebe.

      Pessoas esquisitas, pessoas esquisitas everywhere! :p

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  5. "também não faria sentido nenhum que o Homem adulto tivesse lactase, o fermento que vai permitir desdobrar a lactose que existe no leite." Em relação a isso há uma teoria que defende ser uma mutação que conduziu a uma adaptação evolutiva, que permitiu a sobrevivencia mesmo quando a mãe não tinha leite suficiente (os que tinham a enzima sobreviviam e os outros não); Sendo assim, o homem primitivo não teria essa enzima, tal como muitos atualmente continuam a não ter.

    Os cães e gatos bebem leite de vaca e até gostam bastante, é bem verdade, mas provoca-lhes complicações intestinais, bebem porque são irracionais o homem não é, logo, se lhe faz mal não deve beber.

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    1. Penso que o meu texto é bastante esclarecedor quanto a isso.

      Mas, pronto, concordamos num ponto: "se lhe faz, não deve beber".

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  6. Como dizia uma colega minha: o homem é o único animal que sabe ordenhar a vaca! Eu já tentei e não sei, não consigo mesmo viver sem o meu leitinho!

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    1. Nem eu! Deus-ma-libre! Não seria ninguém sem os meus galões, sem os meus lattes, sem os meus cereais com leite!

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